OFENSA
Muito nos ofendemos quando não nos sentimos valorizados pelos outros. Pouco nos ofenderíamos ou não nos ofenderíamos se nosso valor não estivesse sob o crivo do olhar alheio. A ofensa precisa de um “eu” muito bem construído para acontecer. Quanto mais forte o sentido de identidade, pior será a ofensa. Claro fica que a ofensa depende da existência do ofendido. Sem o ofendido, a ofensa não acontece. Se não me importo com o que o outro fala, pensa de mim, se não me importo com as decisões do outro que não me inclui, se não me comparo com os outros para me sentir valorizado, a ofensa não tem campo para acontecer. Como deixar de ser o ofendido? Entendendo que o mundo não gira ao seu redor. Provavelmente pouca gente está dedicada a te ferir, planejando te ferir. Os outros estão tentando ser felizes, assim como você. Não estão pensando em maneiras de te machucar, só estão agindo da melhor maneira que sabem ser. A maior parte das atitudes alheias que consideramos ofensivas são atitudes vindas da ignorância. A pessoa não sabe como agir de outra forma. Tem pouco ou nenhum contato consigo mesma. Está muito confusa ou ferida e não tem consciência disso. Tendo esse entendimento e sabendo que as pessoas não vão agir à nossa maneira, deixamos de nos ofender. Entendemos que os outros estão sendo o que sabem ser e dizendo o que sabem dizer. Ofendemo-nos porque queremos que o outro nos veja como gostaríamos de ser vistos. Queremos ser valorizados, reconhecidos, aclamados, desejados, maravilhosos e queremos que os outros nos digam isso. Não gostamos de admitir que muitas vezes não fomos os escolhidos. Ao entender que o outro vai ter inevitavelmente uma imagem diferente de mim, gostos diferentes dos meus, portanto uma opinião a meu respeito ou a respeito das circunstâncias diferente da minha, a ofensa não acontece. Para se livrar da ofensa é preciso deixar de ser ofendido. A sustentação da identidade cria sempre conflito. Se não há um “eu” que precise ser valorizado e reconhecido, não há o “eu” que se sente ofendido. Deneli Rodriguez. 21.09.2017.
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COMO ENCONTRAR A PAZ
Estamos cansados de nos sentirmos ansiosos. Procuramos diversas maneiras de lidar com a agitação mental. A inquietação é uma presença constante. Queremos encontrar a paz, mas não sabemos nem onde, nem como, é possível encontrá-la. Muitos recorrem às religiões, outros às drogas, outros ainda a tratamentos relaxantes, treinamentos da mente, viagens, festas, cursos e retiros, mas o incomodo lá dentro, dizendo que não está tudo bem, continua. A ansiedade continua. Encontramos outro objetivo acreditando que dessa vez, ao conquistá-lo, nos sentiremos em paz. A verdade é que empenhamos muito esforço para construir a inquietação. Alguma coisa acontece ou pensamos algo e já estamos lá construindo um roteiro. De um pensamento, emoção ou sensação, criamos uma história, empenhamos muita energia para manter essa história viva para nós mesmos. Suponhamos que eu veja uma criança, daí penso que gosto de criança, penso depois que poderia ter um filho o que me leva ao pensamento que não me casei, começo a pensar que deveria arrumar um namorado, daí penso que não sou bonita e que ninguém vai me querer, penso então que deveria ter feito mais academia, porém é tão caro fazer academia, por que essas empresas gigantes tem que ganhar tanto dinheiro? Nossa o capitalismo é uma droga! Deveria ter continuado trabalhando com Relações Internacionais. Se eu morasse na Suíça, poderia trabalhar na ONU. Esse programa de refugiados poderia ser mais bem feito... e, assim passar talvez o dia todo pensando em tudo isso, construindo ideias e maneiras de mantê-las vivas. A inquietação é uma construção feita por nós que queremos nos livrar. O início do pensar é uma associação com o eu construído (aquele que também inventamos, aquele que dizemos com orgulho: eu sou assim, eu gosto assim, disso eu não gosto; aquele personagem que inventamos pra nós e que nos esforçamos tanto para construir), é um pensar mecânico. Essa associação com o eu construído é que dá início ao pensamento. O eu inventado é o autor do pensamento inventado, ambos são construções mentais. Assim, para encontrar a paz, não há necessidade de se fazer nada, apenas perceber o processo mental de construção da inquietação. Ao perceber o processo de pensar, a construção cessa e a paz é. Você já é a paz que tanto procura. Perceber é o caminho para descontruir a inquietação. Deneli Rodriguez. 03.10.2017. |
AutoraDeneli. Histórico
February 2024
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