Psicologicamente nada é real. Vivemos em um mundo construído por nós e acreditamos nele. Somos alguém que foi construído por pensamentos (nossos e dos outros), ideias, hábitos, condicionamentos e conhecimentos.
Criamos estruturas de interesse, como a religião, o trabalho, os estudos; criamos relacionamentos com base nessas construções mentais que fizemos, com base nessa pessoa (que somos nós como nós nos vemos) que construímos e acreditamos. É por isso que ficamos tão ofendidos quando alguém nos vê de um jeito que não gostamos. Queremos que o outro nos veja como nos construímos, como aquela imagem que temos de nós mesmos e que preferimos. É por isso também que não aceitamos que o outro seja o que ele é. Queremos que ele corresponda àquela imagem que construímos dele. É o que somos. É o que fazemos. Desde que nascemos aprendemos a construir alguém. Aprendemos a construir o mundo, preferindo esse ou aquele clima, essa ou aquela cidade, esse ou aquele estilo de vida e, aprendemos que o que não se encaixa nas suas preferências, deve ser modificado para se encaixar. Assim, passamos a vida tentando moldar o mundo de acordo com o nosso mundo construído, criado, inventado e tornado real por nós mesmos. Vivemos trocando de experiências e personagens. Achamos que nos tornamos mais isso ou aquilo. Aprendemos que o progresso depende do acumular, seja ele conhecimento ou bens. Fazemos isso o tempo todo sem nos dar conta de porque o fazemos. Fazemos todas essas construções mentais porque queremos controle. Queremos ter segurança. Segurança interior ou psicológica não existe. Não dá pra saber o que acontecerá amanhã. Não dá pra garantir que nossos planos se realizarão. Deveríamos ser ensinados desde que nascemos que não há garantias e que nem sempre seu melhor esforço vai trazer o resultado pretendido. Querer muito uma coisa não é garantia de consegui-la. Não existem certezas, nem segurança. Nessa busca entramos em sistemas religiosos, políticos, em grupos, famílias e assim por diante. Ficamos num movimento ininterrupto de um conhecimento a outro, de um trabalho a outro, de uma religião a outra, nos medindo o tempo todo. Medição é “tornar-se”, é uma tentativa da mente de medir, controlar, determinar, comparar; é a própria fonte da desordem. A era do capital trouxe uma prática comum do mundo exterior para o campo da mente: a medição. A medição é confusão; é o movimento incessante de comparação. É o querer “aumentar-se”. Não aceitamos a ideia de que a segurança não existe e tudo o que fazemos é para nos sentirmos seguros e no controle. Não somos essas construções mentais que fazemos de nós mesmos. Nem as que os outros fazem de nós, nem as que nós fazemos deles. Nem as que gostaríamos de ser. Deneli Rodriguez. *Texto originalmente publicado em inglês em “news” do Departamento de Psicologia da Stanford University.
0 Comments
Leave a Reply. |
AutoraDeneli. Histórico
February 2024
|